A música rap torna-se uma narrativa contemporânea, cujos atores sociais encontram-se nas grandes metrópoles e médias cidades - neste caso, Teresina. Por meio da prática antropológica, produzi um conhecimento a partir de um intenso envolvimento com os atores pesquisados. No campo, não só estabeleci relações, selecionei informantes, transcrevi textos, como também fotografei eventos, erigi códigos de fidelidade, aculturei-me ao modo de vida do outro, internalizando alguns elementos da sua forma de viver, pensar e agir. Com isso, como aprendiz dessa ciência, mantive o diário de campo atualizado.
A música rap (rhythm and poetry), sendo um dos elementos de maior poder e valorização dentro do Movimento Hip Hop, resgata a palavra. Isso ocorre por meio das narrativas cuja base reside nas experiências coletivas dos atores. Não são "velhos", mas adolescentes, jovens e, em sua maioria, negros de classe baixa, porém verdadeiros narradores, os novos griot contemporâneos. Identificando-se com esse gênero musical, revelam tudo o que experimentam no cotidiano: desemprego, fome, pobreza, analfabetismo, doença, morte, violência. O rap torna-se a "poética da exclusão".
O rap brasileiro não foge de uma influência cuja matriz encontra-se nos estilos musicais afro-caribenho-americanos, pois, sobre tais estilos, os narradores produzem uma "nova" música. "Nova" porque os DJ's e rappers criam um lugar de originalidade, diferenciando-se das músicas nas quais buscaram referências, e, por isso, tornam o rap algo diferente aos outros estilos, como o samba, o reggae ou o soul. O rap é um ritmo que está permanentemente sendo retrabalhado, tornado contemporâneo de forma criativa e inovadora. Essa matriz origina-se da música negra africana na diáspora, e por meio desse estilo musical os atores constroem suas identidades.