Horácio obedeceu às ordens da Mãe de Santo. Após tomar banho e vestir a longa túnica, deitou-se em uma esteira.
Ao acordar, era tempo de refletir, matutar. Fora chamado para liderar uma facção política em disputa pelo poder na região da Chapada. Aceitara, assim como aceitara a chefia dos Matos, como se não houvesse alternativa, como se, em sua frente, houvesse um único caminho sem volta e sem atalho.
Seu desejo de justiça e de paz agora dependeria de sua capacidade e coragem. Difícil seria manter a serenidade, não abusar da violência, não recorrer à crueldade. Tinha a sensação de que não comandava suas ações, que era guiado por uma força maior, por entidades acima de seu controle.
Estava ali para fechar o corpo, mas também para pedir que, nessa caminhada, não fosse desviado para o rumo torto. Enquanto isso, seus sonhos de uma vida tranquila e pacata na beira do Utinga restavam como lembrança do tempo em que podia sonhar. Tudo isso lhe fez pensar que a força do destino labutava para ser mais forte que sua vontade, seu livre arbítrio.