A expulsão dos doidos é um texto palimpséstico. São cartas, bilhetes retirados do tempo de infância, com suas nódoas, letras apagadas, buracos de traças, amarelecimentos pelo tempo, fragmentos decifrados. Um baú aberto, não de ossos, mas de coágulos do tempo.
Assim sendo, cada fragmento traz um fio e, no fim, temos uma obra grandiosa, que nos revela um escritor com pleno domínio da palavra escrita, despojado de seus excessos, reduzido ao essencial, à frugalidade. É um livro que força o leitor a pausas, divagações, devaneios, livres associações. Característica estilística que abre portas para diferentes nuances interpretativas desta obra que considero, desde já, extraordinária.
A expulsão dos doidos não é um romance, é um texto urgente que nos ajuda a pensar não somente nas histórias narradas pelo autor, mas nas nossas próprias histórias, criando uma imorredoura circularidade. E, seja qual for a noção que tenhamos da verdade de uma narrativa, já agora sabemos que ela é construída. O livro faz o leitor se redescobrir em um caleidoscópio de lembranças. Toda grande literatura tem essa capacidade. Bernardino Furtado, com este livro, conseguiu essa irrefutável proeza. É um livro que veio para ficar. O que já é um grande começo.
Reginaldo Luiz Cardoso