Eis um trabalho em que Handke foge completamente de qualquer cronologia linear e de processos de narrativa convencionais, compondo sucessivamente, ensaio após ensaio, uma metafísica da escrita que deságua na muito perspicaz leitura de uma realidade que se torna irreal de tão premeditadamente elaborada.
Toda a composição da jukebox enquanto falso protagonista serve como biombo para destrinchar a poética handkeana do cotidiano. O encontro entre Handke e a jukebox representa uma metáfora para a impossibilidade de abraçar a realidade. O saudoso aparelho surge então como um navio encalhado que nunca serve a quem Handke quer que ele se destine. Por personagem interposto, o autor rege a ópera a partir de uma enxuta escrivaninha (com as únicas ferramentas que são papel e lápis) no quarto de hotel da pequena cidade-refúgio no interior da Castela espanhola. O embate entre a jukebox e a escrivaninha acaba sendo o real enredo deste ensaio em que Handke abre a caixa de Pandora de sua escrita.