A Revolução dos Bichos é um ensaio político sobre como as revoluções podem ser vítimas de contrarrevoluções, virando as costas para suas próprias ideias originais. A obra chega a mapear razoavelmente o progresso de algumas revoluções históricas, principalmente a Revolução Russa de 1917. Mas, descrita dessa forma, ninguém além de alguns poucos acadêmicos algum dia se interessaria em lê-la. A genialidade de Orwell estava em atingir o mesmo objetivo através de um formato de fábula, o que encaminhou a sua história até uma audiência de massa; afinal, sua obra poderia ser entendida, como ele mesmo afirmou, por praticamente qualquer um. Então, Orwell seguiu os passos de Walt Disney e La Fontaine, que consistia em contar uma história sobre seres humanos através de animais. No processo, o autor revelou que os pecados dos revolucionários não estão limitados a pessoas diretamente envolvidas em revoluções de fato. Na verdade, esta é uma possibilidade humana permanente: um dia acreditar piamente nos mais elevados ideais, e depois eventualmente trair todos eles. Hoje, toda vez que uma revolução dá errado, as pessoas retornam às questões de A Revolução dos Bichos, e declaram que a obra estava à frente de seu tempo. Ora, mas esta é precisamente a genialidade da fábula de Orwell: ao cortar todas as referências humanas contemporâneas, Orwell encontrou uma maneira de nos contar sobre nós mesmos em todo e qualquer tempo, inclusive no futuro. Esta obra é, portanto, um clássico eterno.