A Fábrica é enorme, um cinza que se estende a perder de vista. Em tudo se parece com uma cidade: tem supermercados, agências de viagens, postos de combustível, conjuntos habitacionais e até mesmo pontes. Todos os dias, veículos com a sua logomarca circulam pelas redondezas, e os moradores da região não conseguem escapar a essa incessante influência: há sempre alguém que já trabalhou ali, e os pais ciosos da educação dos filhos procuram convencê-los a percorrer o mesmo caminho, imaginando o futuro brilhante que encontrariam na empresa.
Para a jovem Yoshiko, recém-saída da universidade, ser contratada pela Fábrica representa a realização de um sonho, e pouco importa que o trabalho seja pago por hora, tenha prazo determinado e envolva uma única tarefa: operar uma trituradora de documentos. Já para o especialista em musgos Yoshio, o salto de qualidade é evidente: de pesquisador temporário em uma universidade de província a funcionário efetivo na famosa empresa onde, segundo seu professor, desejam ingressar os melhores acadêmicos do país. Também para Ushiyama o trabalho na Fábrica é providencial: ele, que trabalhava como engenheiro de sistemas em uma pequena empresa, passa a atuar como revisor e só precisa lidar com folhas de papel, canetas e lápis.
Três jovens vidas dedicadas a uma liturgia industrial, ao trabalho fabril, que, como um culto a um deus desconhecido e impiedoso, rege o tempo de cada um deles. Mas o que a Fábrica realmente produz? O que são esses animais estranhos que começam a se multiplicar dentro do complexo? E será que ainda existe um mundo além das suas fronteiras?
Com uma escrita imaginativa que combina o estilo perturbador e surreal de Haruki Murakami com a precisão satírica de Franz Kafka, Hiroko Oyamada é uma das vozes mais potentes e singulares da nova ficção japonesa. Neste A Fábrica, retrata de maneira exemplar o ecossistema titânico da vida profissional moderna no qual a existência humana parece se afundar.